quinta-feira

Escuridão


                               Minha ESCURIDÃO.

  Em meio a tempestade o sol cedeu e as trevas se mostrou forte e pairou em minha casa, entrando pela janela do meu quarto até chegar em minha cama e esta me sussurrou:

  -Nunca mais levante!

  Seu sussurro me travou na cama e mesmo tentando levantar, ou ao menos me mover, nada acontecia, foi então que ela tomou forma e parecia exatamente comigo, só que feito de cinzas. Nem mesmo fechar os olhos conseguia para me livrar daquela imagem que me aterrorizava.

 O dia passou e minha mãe sentiu minha falta no jantar, foi até meu quarto e batendo na porta falou:

  -Ofélia não vai descer para jantar? Ofélia?... Filha?

  Preocupada ela entrou no quarto e gritou ao me ver pálida e paralisada na cama, não sabia exatamente como eu estava aos olhos dela, mas seu grito alarmou a casa toda, com isso meu pai e meus dois irmãos mais novos e gêmeos Julian e Fréderic de 10 anos, subiram para me ver também.

  Houve então um apagão nos meus olhos e já não ouvia mais nada também, minha sensibilidade desapareceu e nem sentia mais meu próprio corpo. Nem mesmo o meu respirar. Pensei estar morta. Foi aí que nesse desespero eu percebi, que isso poderia ser interessante. Poderia, enfim, descobrir o que têm depois da morte.

  O problema é que nessa perfeita escuridão e ausência de qualquer coisa só existiam os meus pensamentos. Mesmo sem sentir meu coração, mesmo sem poder ficar ofegante, uma angustia tomou conta de mim. Pensamentos de minha infância, meus maiores segredos, as lembranças do desejo que tinha de ver mortos os que me atormentavam na escola do primeiro colegial. Isso me estava enlouquecendo. Perdida em mim a escuridão ao redor começou a perder para minha própria ausência de luz e ganhando uma proporção absurda.

  Meu sofrimento era indescritível e meu tormento apenas um, o meu próprio interior. Jamais havia sentido tamanha expansão, onde eu parecia dominar tudo ao meu redor e mesmo sem poder chorar, minha vontade era de enxugar minhas lágrimas e sair de mim mesma, por um instante só que fosse, para tomar fôlego e poder sumir.

  -Por favor! -eu pensei e comecei a insistir, pedindo ajuda. -Socorro! Socorro, alguém me salva de mim mesma, meus pensamentos estão me engolindo e já não tenho mais controle.

  Ao pensar isso percebi que estava sozinha e que a única maneira de resolver isso era não desprezando, nem fugindo da minha escuridão e sim abraçando ela, usando disso para me fortalecer e perceber que ali não havia mau, não havia dor, não havia perigo, apenas uma mente cheia de induções, que agora devia processar tudo de modo diferente.

  Meus medos encarei de frente e logo pude vê - los, eram vermelhos e roxos, com garras e um grito de morte, mas ao enfrenta - los, sem desviar o pensamento, descobri que lá mantinha - se minha força e toda escuridão começou a não me assustar mais.

  Foi então que escutei:

  -Filha? Ofélia?

  Acordei em um hospital com minha família ao meu redor, estava recebendo medicamentos e meu pai me disse:

  - Filha, não se preocupe, está tudo bem, os médicos disseram que não encontraram motivo para sua paralisia, por isso acham que foi por danos psicológicos, mas estamos aqui e você vai melhorar!

  Com muito esforço, com meus olhos brilhando como nunca haviam brilhado antes e eles percebendo como estava recuperando rápido, eu disse:

  -Pai, eu estou aqui e por isso não tenho mais medo!

 

                                                              FIM.