quinta-feira

Escuridão


                               Minha ESCURIDÃO.

  Em meio a tempestade o sol cedeu e as trevas se mostrou forte e pairou em minha casa, entrando pela janela do meu quarto até chegar em minha cama e esta me sussurrou:

  -Nunca mais levante!

  Seu sussurro me travou na cama e mesmo tentando levantar, ou ao menos me mover, nada acontecia, foi então que ela tomou forma e parecia exatamente comigo, só que feito de cinzas. Nem mesmo fechar os olhos conseguia para me livrar daquela imagem que me aterrorizava.

 O dia passou e minha mãe sentiu minha falta no jantar, foi até meu quarto e batendo na porta falou:

  -Ofélia não vai descer para jantar? Ofélia?... Filha?

  Preocupada ela entrou no quarto e gritou ao me ver pálida e paralisada na cama, não sabia exatamente como eu estava aos olhos dela, mas seu grito alarmou a casa toda, com isso meu pai e meus dois irmãos mais novos e gêmeos Julian e Fréderic de 10 anos, subiram para me ver também.

  Houve então um apagão nos meus olhos e já não ouvia mais nada também, minha sensibilidade desapareceu e nem sentia mais meu próprio corpo. Nem mesmo o meu respirar. Pensei estar morta. Foi aí que nesse desespero eu percebi, que isso poderia ser interessante. Poderia, enfim, descobrir o que têm depois da morte.

  O problema é que nessa perfeita escuridão e ausência de qualquer coisa só existiam os meus pensamentos. Mesmo sem sentir meu coração, mesmo sem poder ficar ofegante, uma angustia tomou conta de mim. Pensamentos de minha infância, meus maiores segredos, as lembranças do desejo que tinha de ver mortos os que me atormentavam na escola do primeiro colegial. Isso me estava enlouquecendo. Perdida em mim a escuridão ao redor começou a perder para minha própria ausência de luz e ganhando uma proporção absurda.

  Meu sofrimento era indescritível e meu tormento apenas um, o meu próprio interior. Jamais havia sentido tamanha expansão, onde eu parecia dominar tudo ao meu redor e mesmo sem poder chorar, minha vontade era de enxugar minhas lágrimas e sair de mim mesma, por um instante só que fosse, para tomar fôlego e poder sumir.

  -Por favor! -eu pensei e comecei a insistir, pedindo ajuda. -Socorro! Socorro, alguém me salva de mim mesma, meus pensamentos estão me engolindo e já não tenho mais controle.

  Ao pensar isso percebi que estava sozinha e que a única maneira de resolver isso era não desprezando, nem fugindo da minha escuridão e sim abraçando ela, usando disso para me fortalecer e perceber que ali não havia mau, não havia dor, não havia perigo, apenas uma mente cheia de induções, que agora devia processar tudo de modo diferente.

  Meus medos encarei de frente e logo pude vê - los, eram vermelhos e roxos, com garras e um grito de morte, mas ao enfrenta - los, sem desviar o pensamento, descobri que lá mantinha - se minha força e toda escuridão começou a não me assustar mais.

  Foi então que escutei:

  -Filha? Ofélia?

  Acordei em um hospital com minha família ao meu redor, estava recebendo medicamentos e meu pai me disse:

  - Filha, não se preocupe, está tudo bem, os médicos disseram que não encontraram motivo para sua paralisia, por isso acham que foi por danos psicológicos, mas estamos aqui e você vai melhorar!

  Com muito esforço, com meus olhos brilhando como nunca haviam brilhado antes e eles percebendo como estava recuperando rápido, eu disse:

  -Pai, eu estou aqui e por isso não tenho mais medo!

 

                                                              FIM.






domingo

Uma vida melhor?


Uma vida melhor?

 

 Em uma casa no meio da grande São Paulo, dormia Oscar, um homem mal educado que reclama de tudo e não conhecia a gentileza. Ele estava sonhando com seu passado sofrido, nas mãos de um pai severo. Acordou angustiado e foi até o banheiro lavar o rosto.

 Ele usava uma calça de moletom preta e uma blusa de frio azul com capuz. Branco, olhos pretos e cabelos calvos, ele olhou no espelho e começou a ofender-se.

 No dia seguinte levantou e foi trabalhar, sem fazer ao menos a barba, vestia uma calça social marrom e um terno barato, com camisa e gravata.

 Oscar chegou ao trabalho e a moça na recepção o chamou e disse:

 -O seu Luiz quer vê-lo.

  Se dirigiu para a sala de seu chefe, bateu na porta e entrou sem esperar resposta.

 -Oscar, sente-se. –disse o patrão, sentado com uma camisa xadrez, era obeso e tinha uns papeis na mão.

 Depois que Oscar sentou o seu chefe lhe entregou os papeis e disse:

 -Eu sinto muito. Obrigado, você já pode ir.

 Oscar indignado ao ler: DEMITIDO, levantou e deu um soco no patrão que caiu da cadeira.

 Ele saiu depressa da empresa e pegou um ônibus, desceu em um cemitério e foi ao túmulo de seu pai, ajoelhou –se e jogou os papeis no chão, pegou um isqueiro e colocou fogo neles.

 Entre prantos ele ouviu passos e virou-se, não viu ninguém, quando olhou novamente para o túmulo viu uma garota sentada, vestia uma roupa branca, cabelos longos e loiros, olhos verdes.

 -Quem é você?

 Ela parecia não ter corpo físico, parecia uma imagem, como de um fantasma.

 -Vim te ajudar.

 A voz da garota, de aparência de uma bela menina de uns oito anos, era suave e doce.

 -Me ajudar como?

 -Eu irei melhorar sua vida, só precisa fazer uma coisa para mim Oscar.

 -Você é um anjo? Um fantasma? O que tenho que fazer?

 -Eu sou um demônio. E terá que me dar sua alma em troca de uma vida melhor. A morte vem te buscar hoje, terá um enfarte em poucos minutos, o que você decide?

 -Um demônio? Devo estar louco! Mas aceito.

 No mesmo instante Oscar acordou em sua cama novamente, como se o dia não tivesse passado. Ele fez a barba e foi ao trabalho, a recepcionista o chamou e ele foi a sala do chefe.

 -É uma pena perder você! –disse o chefe.

 -Eu sabia que não era real! –disse Oscar ao pegar os papeis, porem ele se surpreendeu quando leu: PROMOVIDO.

 -Pena ter que te transferir para seu novo cargo na matriz, fara falta aqui, mas parabéns! –disse o patrão.

 Oscar sorriu e abraçou o patrão. Depois saiu e foi para sua sala, pegou suas coisas e partiu num ônibus para a matriz.

 No caminho ele viu o cemitério e disse em voz baixa:

 -Valeu diabinha!

 Passaram –se treze meses, Oscar com a promoção comprou um carro, conseguiu uma namorada que sem ele fazer muito se apaixonou e estava feliz finalmente, se sentia vivo.

 Ele foi ao hospital, pois sua namorada estava gravida, daria a luz a seu filho naquele momento. Oscar estava feliz por poder ser pai e corrigir os erros do seu próprio pai, sendo melhor.

 Quando entrou na sala de parto viu sua namorada, estava pálida e chorava muito. Se aproximou e perguntou:

 -O que houve?

 -Eu perdi o bebe, me perdoe. Eu...

 Oscar desesperou-se, pois sua linda namorada morreu em seus braços, ela era morena, pele mulata, traços de boneca.

 No dia do enterro ele foi depois para o tumulo de seu pai e disse:

 -Você mentiu para mim!

 O demônio reapareceu e disse:

 -Se você tivesse morrido aquele dia, ela estaria viva ainda.

 -Mas isso não é justo! O que devo fazer? –questionou Oscar entre prantos, pois amava a sua namorada.

 -Uma vida pela outra. Se mate e eu faço ela viver.

 Oscar estava desnorteado, cego pela dor de vê-la morrer, então pegou um vaso de planta, quebrou e com o caco de vidro cortou os pulsos, caindo ajoelhado.

 -Antes que morra farei que sua amada viva.

 Ele olhou para a direção do lugar onde ela estava enterrada e disse:

 -Mas ela está lá embaixo.

 -Sim, está viva, porém a pobrezinha morrerá asfixiada.

 -Nãooooooo! –gritou Oscar que caiu aos pés do demônio, cada vez mais fraco, até morrer.

 

 

FIM.

 

 


 

 

 

 

 

 

quarta-feira

Costuras e Sangue -parte 02


 
 
Costuras e Sangue.

Parte 02
 
Passadas duas semanas o detetive e um médico estavam em uma sala com Maria Lúcia.

 -Essa será sua última chance, me conte o que aconteceu? Mas sem mentiras dessa vez. –disse o detetive sentado e olhando para Maria Lúcia.

 -Eu contei a verdade. Para ele parar tive que me entregar. Vou contar como foi...

 Eu estava com Madelaine ali sofrendo com a fumaça, nós estávamos encurraladas, iriamos morrer, então eu tive que tomar providências. Segurei ela nos ombros e corri em direção dele, passamos por ele como se fosse um fantasma, eu corri das chamas e entrei na sala da supervisão, coloquei Madelaine sentada na cadeira e arrastei a mesa até a parede para tentar alcançar uma janela.

 -Quero você Maria Lúcia e quero vingança de todos! –dizia ele se aproximando, eu ia tentar leva-la comigo para fora, mas quando me virei ele estava estrangulando ela e a matou.

 Podia ver um ser feito de sangue e olhos negros, ele segurou minha perna e me puxou e fez... Ele me tocou... em cima da mesa ele me fez dele e entrou em mim.

 -Como assim entrou em você? Então quer que acreditemos que está possuída e que não foi responsável pelo incêndio na confecção e morte de Madelaine? –questionou o detetive.

 -É a verdade. Se me matarem ele ficará livre, sou eu quem contenho ele dentro de mim. –respondeu Maria Lúcia.

 -Não tem jeito mesmo. Você será sentenciada amanhã as dezoito horas, sinto muito Maria Lúcia. –disse o detetive que se retirava da sala.

 Maria Lúcia começou a gritar e espernear dizendo:

 -Ele vai pegar você detetive, por me matar! Ele vai te pegar!

 Eles a sedaram e a levaram para a cela e a prenderam na cama. Durante toda a noite ela cantava a mesma canção mesmo dormindo:

 “Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...

 

Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...

 

Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...”

 

 No dia seguinte eles a levaram para a cadeira elétrica, a colocaram na cadeira, amararam e prepararam os itens sobre sua cabeça. Um homem espera olhando no relógio dar seis horas da tarde, faltavam apenas três minutos.

 Maria Lúcia estava chorando e tentava se soltar, colocaram um capuz em sua cabeça e todos ali presentes, conhecidos da confecção e parentes de Madelaine esperavam para assistir a execução.

 Marcada as seis horas da tarde o homem que estava aguardando deu sinal para outro que já estava com a mão na alavanca que controlava a energia elétrica, ele a acionou e Maria Lúcia era eletrocutada viva.

 As pessoas olhavam aterrorizados, mas não deixavam de olhar.
 Suas unhas começaram a crescer e seus cabelos loiros também, algo estava errado, Maria Lúcia parou de gritar e ria com aquilo tudo, seu corpo se regenerou e enrijeceu.

 Todos ficaram espantados quando viram que ela estava conseguindo se soltar, a eletricidade passava pelo seu corpo, mas não parecia lhe fazer mais mal. Ela se soltou e levantou da cadeira, tirou o capuz e mostrou seu rosto transfigurado, seus olhos amarelos, dentes afiados, pele pálida, lábios roxos e rosnou para o detetive que estava também assistindo.

 -Impossível! –afirmou o detetive.

 -Ela avisou! –disse Maria Lúcia, que já não era mais uma mulher, mas um demônio na forma humana.

 Ela começou a atacar todos que ali estavam, devorando seus órgãos, todos corriam, os guardas atiravam, mas nada detinha o demônio.

 Ele Foi até o médico, até os familiares de Madelaine, os colegas de trabalho e os matou todos, o detetive assistia tudo procurando como fugir, mas porta alguma abria.

 -Eu não acredito em demônios! –disse o detetive quase urinando de medo perto da porta, vendo o demônio se aproximar dele com sangue na boca e nas mãos.

 -Não precisa acreditar para que eu exista! –respondeu o demônio.

 -Você é Maria Lúcia? Ou Tomás? –questionou o detetive.

 -Usei dos dois para poder vir a este mundo e não sairei mais dele! –respondeu o demônio que prendeu o detetive com uma das mãos contra a porta e abriu a boca para devora-lo.

 -Saia da minha mãe! –gritou uma menina pequena e loirinha, ela entrou escondido no local, era filha de Maria Lúcia.

 O demônio soltou o detetive e se virou para a menina e caminhava em sua direção.

 -Não! Deixe ela em paz! Corra garota! –gritava o detetive.

 Mas a menina não se mexeu. O demônio parou em frente dela e ela não se mexia, mas não tinha expressão de medo.

 -Eu disse deixa a minha mãe! Agora! –afirmou ela apontando para o demônio.

 -Ela não existe mais. Você morrerá! –disse o demônio que acertou o rosto da menina com suas unhas.

 A menina caiu no chão e o detetive pulou nas costas do demônio com a arma apontada para cabeça dele.

 -Não pode me matar! –afirmou o demônio.

 -Mas podemos te expulsar! –afirmou a menina que começou a cantar uma canção de dormir, era a canção que sua mãe cantava para ela antes de dormir.

 O demônio sentiu-se incomodado com a música e sacodia-se, o detetive foi jogado de cima do demônio no chão e via a menina fazer o demônio se abaixar, ela levantou a mão direita e cantava a canção acreditando que sua mãe lutaria por ela.

 O detetive se comovia ao ver aquilo e a menina disse:

 -Mãe me defenda!

 Ao dizer isso o demônio se debateu e começou a queimar.

 -Sua mãe já morreu, foi eletrocutada e atiramos nela. –disse o detetive.

 -A alma dela vive! –respondeu a menina com determinação.

 O demônio queimou e deixou o corpo de Maria Lúcia que voltara ao normal.

 O detetive se aproximou chorando da menina e disse:

 -Eu sinto muito por sua mãe.

 -Devia ter acreditado nela, como eu acreditei. –respondeu a menina.

 -Vai ficar sozinha agora? –questionou ele.

 -Não, você vai cuidar de mim e eu vou te ensinar a acreditar nas pessoas. –respondeu a menina sorrindo.

 

 

 

 

Fim.

 

 

 

sábado

Costuras e Sangue - parte 1


Costuras e Sangue.

 

 Madelaine, era loira, 32 anos, mãe de duas meninas, magra, bonita, mas pobre como todas nós. Ela era minha vizinha, trabalhávamos juntas na confecção de roupas para a fábrica local, em um certo dia antes de irmos embora ela escutou como se tivesse mais alguém na fábrica, então voltamos para dentro apenas nós duas.

 Era perto das sete da noite, andamos pela fábrica e eu comecei a ficar preocupada, pensando que poderia ser um ladrão.

 Ela disse ter escutado alguma coisa dentro da sala da supervisão, entramos abaixadas para não sermos notadas, mas ela espiou, depois se abaixou novamente e me disse:

 -Acho que ele não vai embora se pedirmos, ele veio buscar a todos nós.

 Achei estranho o que ela disse então me levantei sem pensar duas vezes e não vi nada.

 -Se abaixe, ele vai vê-la! –disse ela, que me puxou para baixo, atrás da mesa.

 -Não há nada lá Madelaine! –eu disse.

 Ao dizer isso não mais em voz baixa, escutei um ruído e senti a mesa se mexer, olhei e ela estava afastada, depois a luz que estava apagada ascendeu sozinha e eu vi marcas de mãos de sangue por toda a sala.

 Me assustei e disse:

 -Vamos sair daqui depressa!

 Eu e Madelaine saímos às pressas da sala e passávamos por entre as máquinas de confecção para ir para porta de saída.

 As máquinas começaram a funcionar sozinhas e em todas as agulhas havia sangue, por isso todas as roupas eram costuradas e ficavam manchadas de sangue.

 Nós tentamos abrir a porta mas estava emperrada e começamos a escutar gritos que vinham do vestiário.

 -Precisamos ir ver, pode ter alguém em perigo. –disse a ela.

 Ela concordou, fomos então devagar e com medo até o vestiário, os gritos pareciam de uma mulher, quando chegamos ao vestiário ascendemos a luz e vimos sangue por todo lado, mas não vimos ninguém.

 -Quem está ai? –perguntei.

 -Ficou louca, ele vai nos matar! –afirmou Madelaine.

 -Mas quem? O que foi que você viu? –questionei ela.

 E foi nesse momento que as coisas pioraram, quando ela disse o nome dele.

 -É o Tomás. Ele veio nos levar! –respondeu ela.

 Ao dizer isso tudo começou a estremecer, os armários, os bancos, as torneiras se abriram sozinhas, assim como os chuveiros e não saía água, mas sangue.

 Eu senti algo puxar meu braço e olhei, não vi nada, mas gritei de susto, ele deixara uma marca de sangue no meu braço.

 Madelaine começou a chorar com medo e antes que me dissesse algo foi puxada pelos cabelos para fora do banheiro.

 Eu corri atrás tentando impedir, mas ela foi levada até a máquina de costura, ele segurou a mão dela embaixo da máquina e a costurou.

 Eu tentei me aproximar, não via quem fazia aquilo, porém tinha que fazer algo. Peguei meu crucifixo pendurado no pescoço e andei o segurando na frente e me aproximei dizendo:

 -Deixe ela em paz! Vai embora!

 As luzes começaram a piscar e foi tudo muito rápido a única coisa que via era um vulto vermelho, ele segurou minha mão e virou meu braço para trás o quebrando e me fazendo largar o crucifixo.

 Ouvi um sussurro no ouvido que dizia:

 -Nem se lembra de mim, não é Maria Lucia? Pagará por me desprezar!

 Foi quando me lembrei que havia um zelador que trabalhava anteriormente ali e vivia me olhando, mas nunca lhe dei atenção e até ria quando caçoavam dele por ser esquisito, com aquele macacão cinza e aquela barba grande e cheia.

 Ele soltou meu braço e eu sentei no chão em choque e vi que ao piscar das luzes o sangue por toda parte mudava de cor e cheirava a gasolina.

 -Me ajude! –pediu Madelaine, presa na máquina de costura pela mão direita, eu fui até ela que chorava assustada. Levantei a agulha tentando soltar a mão dela costurada, em vez da linha percebi que era arame.

 Me perguntei se meus olhos me enganavam ou tudo aquilo era real?

 Vi então o fogo surgir, escutava as risada do zelador maldito. Tentava soltar Madelaine, tive que puxá-la com um braço só, pois meu outro estava quebrado, corremos para a porta de saída, lutando para abri-la.

 -Ele vai nos matar! –disse Madelaine já tossindo com a fumaça.

 Eu olhei com raiva para trás e gritei:

 -Nos deixe sair! O que você quer?

 Nunca pensei que fosse atender um pedido desses, mas eu tive que concordar, eu tive!

 -Escute Maria Lucia, precisa me contar tudo que aconteceu ou será condenada a cadeira elétrica, entende isso? –disse o detetive Denis Pieterson, na penitenciária para doentes mentais.

Maria Lucia ficou em choque não conseguindo contar o restante e ele saiu da sala desapontado. Depois a levaram de volta para cela.

 Ela ficou trancada sozinha e cantarolava:

“Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...

 

Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...

 

Ele vai nos matar,

ele vai se vingar,

não tem como escapar,

o zelador foi quem pediu,

para você me escutar,

hum, hum, hum, hum...

hum, hum, hum, hum...”

 

 

Continua...

  

 

 

 

 

terça-feira

O Desejo da Morte


O Desejo da Morte.

 Em um quarto de Motel, Maurício, um brasileiro mestiço com japonês, estava sentado em frente a cama, com as luzes apagadas, estava sozinho, vestia apenas uma calça jeans, aparentava ter em média 30 anos, cabelos arrepiados e pretos, ele socava o chão com muita raiva e começou a dizer entre lágrimas:

-Eu odeio minha vida! Me leva daqui! Me leva dessa vida! Não suporto mais tudo isso, minha família não se importa, eu não me importo mais comigo, quero morrer!

 Ao dizer isso correu contra a quina da mesa de vidro que tinha por perto e bateu com tudo a cabeça, ele caiu desmaiado. Passaram –se algumas horas e ele sentiu um cheiro estranho, abriu os olhos com dificuldade e viu, estava em um jardim lindo, com flores, ele se sentou e via várias mulheres lindas, com vestes de seda, dançando, havia um som instrumental e o vento trazia aquele cheiro estranho, era quase um perfume, mas forte demais.

 Ele se levantou e sorrindo se aproximou de uma das mulheres, ela era uma mulata linda, com cabelos longos e negros, ele estendeu a mão e ela veio até ele, assim como todas as outras, elas começaram a dançar ao redor dele.

-Isso não pode ser real! Mas que maravilha, estou no céu! –disse ele muito sorridente.

 Uma delas, foi até o meio do jardim, ela era loira, com olhos castanhos, ela acenou o chamando. Ele caminhou com as outras e ela apontou para baixo, havia um precipício, escuro.

Maurício olhou para ela estranhando aquilo e disse:

-O que foi? O que quer que eu veja?

 Ela não respondeu, mas ela com todas as outras o empurraram no precipício. Ele caia e viu que elas se transformaram em demônios.

 O lugar era escuro e parecia não ter fim, ele começou a sentir sua pele rasgar, seu corpo queimar, ele gritava e se debatia, caia com muita velocidade.

 Sua pele foi saindo de seu corpo, assim como sua carne, como se o precipício sugasse, ele perdeu tudo e ficou apenas com os ossos, mas estava “vivo”.

 Ele caiu em um monte de folhas secas, se levantou e olhava seu corpo assustado, ele caminhou era uma aldeia, com cabanas parecidas com de índios, mas sombrias, haviam vários como ele lá, crianças e mulheres também.

 Maurício de aproximou de um homem e perguntou:

-Que lugar é esse?

 O homem não respondeu, mas saiu andando e entrou em uma das cabanas, Maurício entrou também. O homem se sentou no chão e deu um livro com capa negra e um símbolo de um demônio na capa para Maurício.

 Ele o abriu e nele continha vários desenhos, de lugares, era fascinante, pois não eram quaisquer lugares, eram os sete infernos, era como um guia.

 Maurício se levantou e saiu vendo os desenhos, ele seguiu pela indicação do desenho, por uma estrada, coberta por sangue, tomava cuidado para não escorregar e caminhou muito até chegar em um castelo enorme. No guia estava marcado com o nome de um demônio, que não ouso pronunciar, pois estaria chamando por ele.

 Ele passou pelo imenso portão de ferro, aproximou –se da porta e bateu com força, com sua mão puro osso.

 Nada aconteceu, então ele entrou no castelo e viu, era enorme e belo por dentro, mas ao mesmo tempo tenebroso. Uma sala repleta de instrumentos de todos os tipos, ele se aproximou de um violoncelo e o tocou nas cordas, fazendo soar seu belo som. Morcegos voaram com o som, ele se surpreendeu e questionou:

-Como pode? Morcegos aqui? Não estou no inferno?

 Havia uma enorme escada no meio da sala por onde surgiu um homem, esse estava normal com sua carne e ossos, era singelo, cabelos morenos presos para trás, uma pele pálida, olhos vermelhos, roupas do século x, ele desceu as escadas e se aproximou de Maurício.

-O que procuras? –perguntou o homem.

-Quero saber, onde estou? Me ajude, estou perdido. –respondeu Maurício.

-Venha comigo. –respondeu o homem.

 Eles subiram as escadas, o homem estalou os dedos e os instrumentos começaram a tocar sozinhos, Maurício olhava tudo admirado e seguia o homem, que o levou até uma biblioteca.

-Sente-se por favor. –disse o homem que ofereceu uma cadeira para Maurício e sentou-se em outra atrás de uma mesa.

-Vai me ajudar? –perguntou Maurício.

-Escute por gentileza o que tenho a dizer Maurício. Você está entre a vida e a morte em um leito de hospital. Está em coma e sua alma veio para cá, mas não morreu ainda. Precisa decidir o que quer. –Contou o homem, friamente, mas com gestos cultos e olhar penetrante.

-Mas o que? Não morri? Isso aqui é a minha alma? Eu tenho que escolher o que? –questionou desnorteado Maurício.

-Sua alma, está aqui, mas deve escolher morrer ou viver. Se escolher morrer permanecerá aqui, como os outros, mas se escolher viver, não será como antes. –explicou o homem.

-Quem é você? E como assim não será como antes? Diga o que tenho que fazer? Não quero ficar aqui, escolho viver! –responde Maurício.

-Sou o demônio. O príncipe demônio. Deve apenas fazer um pacto comigo, voltarás e será um caçador de almas! Aceita isso? –perguntou o homem.

-Você é o maior demônio do inferno? Sério? Estou falando em uma sala fechada, uma biblioteca com o diabo mesmo? Bom acho, que... Bom eu aceito! –disse Maurício.

-Sim sou o diabo, mas esse não é meu nome em si, mas isso não vem ao caso. Voltarás para o mundo dos mortais e será meu escravo! –afirmou o homem, que se levantou e tocou na testa de Maurício.

 Maurício sentiu muita dor e gritava, mas logo tudo sumiu e ele acordou no susto, mas não estava em um hospital, estava dentro de um caixão. Mas tinha seu corpo de volta, sentiu suas mãos e sorriu, mas começo a ficar sem ar, bateu na tampa do caixão e o fez quebrar, sua força havia redobrado, de forma sobrenatural. Mas com isso a terra começou a entrar no caixão, ele cavocou a terra, se rastejando para sair do túmulo.

 Ao sair era dia, ele correu até a beira de um telhado de uma capela do cemitério, pois o sol o queimava.

-Será que sou um vampiro? Ele entrou na capela e viu um crucifixo, se aproximou e tocou, mas sua mão queimou, ele então começou a sentir que havia mudado realmente, ele então abriu os braços e riu, estava muito alegre.

-Tem coisas a fazer Maurício! –disse o homem que apareceu do lado dele.

 Maurício se assustou e questionou:

-O que tenho que fazer?

-Simples, sugue as almas para mim, com suas presa, você se alimenta do sangue e eu das almas! Vampiro! –explicou o homem.

-Sim, começarei pelos ingratos da minha família! –afirmou Maurício.

-Só tome cuidado para não ser descoberto e evite a luz do sol. –disse o homem antes de sumir.

 Maurício começou pela sua família, matou a todos, depois começou a pegar jovens que saiam da escola a noite, invadia residências com usa velocidade incrível, ninguém o percebia.

 Depois de 110 anos, Maurício estava em uma velha casa, sentado no chão apenas com uma calça jeans, ele socava o chão e dizia:

-Eu quero morrer, minha vida não tem sentido! Quero morrer!

 Então se jogou contra um pedaço de ferro saído da porta de ferro, fincando sua cabeça. Começou a sangrar, tirou a cabeça do ferro e caiu no chão enfraquecendo e disse:

-Me leva! Quero morrer!

 O homem apareceu e disse:

-Você escolheu viver, nada o fará morrer, a não ser que eu permita.

-Por favor, por gentileza, me manda pro inferno! –pediu Maurício.

-Já está vivendo um! Mas agora que perdeu todo seu sangue passará a eternidade aqui, sozinho, no escuro, sem forças para se levantar! Antes de tentar se matar, deveria pensar o que vem depois. –disse o homem, que riu até desaparecer.

-Eu só queria ter paz! Mas acho que minha vida era melhor antes, porque eu fui tentar me matar! Porque? –questionou Maurício.

 Ele adormeceu e acordou no motel. Ele havia sim batido com a cabeça, mas só estava desmaiado. Ele se levantou e tocou a cabeça sangrando e sorriu dizendo:

-Vou escrever um livro disso! Acho que acordei para vida!

 Ele se levantou com dificuldade e escutou um rosnado, olhou para trás e viu um demônio, preto, com olhos vermelhos, rabo longo e pontudo e garras enormes, com fogo na boca e asas.

-Você vem comigo! –disse o demônio com uma voz, grossa e temível.

 Maurício percebeu que sua imaginação foi terrível, mas a realidade era muito pior.

Fim.

 

 


 

 

 

 

TE AVISO POR ESSA CARTA


TE AVISO POR ESSA CARTA  
 

 Eu morri e venho por meio dessa carta poder contar o que aconteceu. Minha carta deverá ser lida hoje antes das três horas da madrugada, por você minha querida irmã querida.

Eu estava brincando com Angelina, minha boneca favorita no jardim, mamãe gritou e eu corri até o quarto dela, vi que ela estava com os pulsos cortados, mas sei que não é culpa dela, pois vi um homem feio em cima dela, ele tinha olhos vermelhos e dentes compridos, rabo e asas. Tive medo, por ver mamãe morta com ele em cima dela, ele me olhou e eu corri, corri o mais rápido que pude, me tranquei no porão, chamei pelo papai, mas sabia que ele não iria vir, estava no trabalho, mas era só o que sabia fazer, gritar papai, papai.

 Preste atenção minha irmã, esse homem ainda vaga pela casa. Vou contar-lhe tudo.

 Eu não sabia o que fazer e ele atravessou a porta e veio até mim, ele não tocava o chão, mas levitava, parecia um fantasma, mas não sei acho que é isso que o padre chama de demônio, quando fala nas missas que a mamãe nos obriga a ir.

 Será que o padre já viu um desses? Deve ter visto, foi o que pensei, por isso, corri pela porta dos fundos e sai de casa. Fui até a casa do padre, minha irmã, foi o que eu fiz.

 Bati na porta e chamava por ele, olhava para trás e lá estava o demônio chegando, uma mulher passou na rua com seus filhos, me olhou, mas não viu o demônio. Nem pensei em pedir ajuda a ela, sabia que não acreditaria, só o padre sabia de demônios, ele podia me ajudar.

 Ele veio e abriu a porta, o abracei com força, o padre, e chorava muito. Ele se abaixou e me olhou perguntando o que aconteceu. Eu disse:

-O demônio padre, veja! Atrás de mim!

 Mas ele olhou e parecia não ver, eu olhei para o demônio e ele me olhava rindo.

-Não há nada, acalme-se! Onde está sua mãe? –perguntou o padre.

-Ele a matou padre, a fez cortar os pulsos e agora quer me pegar também. –expliquei.

-Não pode ser. Sua mãe se matou? Entre, vamos ligar para a emergência, venha. –disse o padre.

 Nós entramos, eu sentei no sofá do padre e o demônio entrou junto, ele se sentou do meu lado e disse:

-Ele não vai acreditar em você. Ninguém vai.

 Eu me levantei e fui até o padre que estava com o telefone no ouvido.

-Ele é real! Acredita em mim padre! –disse chorando para ele.

-Me diga seu endereço, para emergência ir lá. –pediu ele.

-Você não entende! Ele está aqui! Expulse-o padre, agora! Faça!

 Meu rosto, sei estava apavorado, o padre desligou o telefone, se abaixou e olhou nos meus olhos.

-Sei que é difícil ver sua mãe morta, mas não culpe demônios por isso, sinto muito criança pelo que aconteceu. Me fale o telefone de seu pai. –disse o padre.

-Mas não sei de cabeça o número. Te levo até minha casa, tenho só 11 anos, venha comigo te mostro onde moro, não sei te falar certo, estou assustada com o demônio atrás de mim, me encarando e dizendo que é inútil pedir sua ajuda. –contei ao padre.

-Acha mesmo que tem um demônio atrás de você? Veja só isso. Se tem um demônio nesse lugar se manifeste agora! –exclamou o padre.

-Isso, agora expulse-o –pedi a ele.

-Viu não aconteceu nada, não tem demônio. –disse o padre, mas em seguida o demônio fez apagar as luzes.

-É acho que acabou a energia. –disse o padre.

-Não isso foi o demônio padre. –expliquei.

-Demônio? Se foi você me de outro sinal. –disse o padre.

 Mas nada aconteceu, o demônio ria, para ele parecia brincadeira.

 -Filha, vai até a igreja ao lado e passe água benta na testa, depois venha que vamos até sua casa, não há demônio algum. –sugeriu o padre.

 Eu sai com medo, mas fui até a igreja ao lado, havia uma pia com água benta, quando tentei toca-la o demônio segurou minha mão e me puxou para fora da igreja, eu gritei pelo padre e ele saiu da casa e me viu sendo arrastada, mas não via o demônio.

 Ele se assustou, e correu me segurando. O demônio me soltou e deu um soco no rosto do padre que caiu. O demônio subiu em cima dele e tentava enforca-lo. Eu corri até a casa do padre e peguei um crucifixo que achei, fui até a igreja e o molhei na água benta, depois fui até o padre e coloquei em sua mão. Ele a levantou e começou a fazer orações.

 O demônio ficou furioso comigo e pulou em cima de mim, o padre tentou me ajudar, mas não pode fazer nada, o demônio me puxou pelo cabelo e me lançou na rua, quando um caminhão passava e ele me atropelou.

Sai do meu corpo e vi o padre chamando a ambulância. Mas vim até aqui para te alertar, pois o demônio voltou para essa casa e quer você agora.

 Bom são 3 horas agora, acorde e leia a carta, antes que seja tarde. Espere ele está aqui. Levante-se rápido, isso levante-se, veja-o. Não, se aproxime dela demônio!

...

 Que alguém leia essa carta, minha mãe, eu e minha irmã fomos mortas por um demônio, acreditem ele é real.

Jandira Catarine Dias.

 
Fim.